domingo, 15 de fevereiro de 2009

Rititi

EA, nivelar para venderAqui, querido Pedro, no reino zapatero, IKEA (que nunca se pronunciará iquéia, como na pátria lusa) é masculino. Aqui vai-se ao IKEA para ser tratados abaixo de cão, carregar caixas impossíveis, comer cachorros a cinquenta cêntimos ou combinar cadeiras ANTNÄS com estructuras STOLMEN sem ter a mínima noção de interiorismo, engenharia ou sentido geográfico da decoração. Claro que há povo para tudo, que faz excursões ao IKEA como opção lógica ao Prado e cuja biblioteca está composta por catálogos de móveis e tapetes fabricados no Vietnam por meninos explorados, mas da estupidez alheia eu não tenho culpa.Depois há gente como eu, que vai ao IKEA de Alcorcón porque é tesa e simplesmentee compra uma estante branca, paga o transporte, tira o dia para esperar a entrega que chegará entre as 10 da manhã e as 7 da tarde (aproximadamente) e quando abre a embalagem.... enganou-se na cor da estante! Horror, é preta!!! E tem que a devolver. E não tem carrinha. Só um telefone de atenção ao cliente que nunca é atendido. Duas viagens ao IKEA por uma m30 em obras, uma reclamação por escrito e quinze dias depois, lá foram dois simpáticos brasileiros a minha casa para apanhar a puta da estante. Primeiro passo superado, agora é só esperar a estante branca. Passados outros quinze dias e porque o cabrão de telefone de assistência não assistia nada, lá tive de voltar ao IKEA. Então e a minha estante branca? Em sua casa, diz a menina fardada atrás do balcão. NÃO!!! Após explicações, mais reclamações por escrito e a ameaça física derivada do meu evidente estado de prenhez consegui fazer-me entender: QUERO A MINHA ESTANTE (ou a devolução dos 250 aurélios). Tábem abelha. Outro mês e da estante, népias. Pergunto-me para que precisarei eu de uma estante e quando já me tinha feito à ideia do minimalismo como modo de vida, pimba, lá atendo o telefonema mágico: hoje vamos levar a sua estante preta. Preta? Mas eu queria o modelo branco! A sério? Palavra de honra, juro-lhe pela alminha da minha gata morta que sim. Mas o cabrão do brasileiro diz-me que não, que me foda, que ou fico com a preta ou nada. E outra vez telefonar para o telefone de assistência ao cliente (e atender é mentira, claro) e outra vez sair do trabalho a correr para ir aos filhodaputadoscabrões dos armazéns suecos de los cojones que estão no cu Judas e outra vez perguntar à menina fardada atrás do balcão se acha se eu sou estúpida (que o devo ser, pois não faço nada mais que gritar e abanar uma factura cobrada há três meses atrás) ou atrasada mental ou se sou simplesmente vítima de um sádico exercício de pós-venda nórdico, basado nos fillmes do Bergman e nos índices de suicídio na Suécia. À minha volta gritam um inglês cuja jugular rebentará em breves segundos, um espanholito com cara de veraneante na Figueira da Foz, um casal de fufas despenteadas e uns velhinhos com pinta de terem sido muito pacientes até esse momento.O IKEA tira muita gente do sério, com a política de faça você mesmo, da nivelação democrática por baixo, do todos podemos apresentar um programa de bricolage graças aos estupdendos manuais de montagem, das meninas fardadas que nos tratam como uma estúpida superioridade dada pelo computador e o "sistema diz que não", do telefone de assistência onde se reclama por monossílabos e pela igualdade por catálogo. A minha estante, já agora, uma semana depois chegou a casa, onde foi montada por um voluntarioso Mr. Pinheiro aos pontapés contra as peças de contraplacado. Nunca mais voltei ao IKEA e preferi procurar lojas de bairro, mais caras e mais lentas, onde não me dêem um pontapé no cu cada vez que tenho um problema com o suposto eficaz sistema de venda. O meu objectivo está posto nas exclusivas lojas do Bairro de Salamanca, mas até lá também não preciso que tratem como uma besta suburbana. Até porque o IKEA é mais barato, mas não é grátis e a mim custa-me muito ganhar o meu parco ordenado.

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